Entrevista Inédita: Alberto Almeida


“Assemelhando-se a João Batista que, quando enaltecido,
fazia menção ao Mestre e dizia que não era digno de desatar
as correias das Suas alpercatas, assim fazia Chico em todas as vezes
que era enaltecido, transferindo os elogios a Kardec e a Jesus”.

Alberto Almeida
Orador Espírita – Grupo Espírita Jardim das Oliveiras - Belém do Pará

Wellerson Santos (Wellerson): Francisco Cândido Xavier, um dos grandes ícones do Espiritismo, tem servido de exemplo para muitos médiuns e realmente ele o é. Se observarmos sua vida, notaremos que, por inúmeras vezes, ele esteve mediunizado em trabalho espiritual por muitas horas seguidas. Na atualidade, muitos médiuns, utilizando-se desse precedente, agem da mesma forma. Há algum inconveniente nesse fato pela ótica espírita?

Alberto Almeida (Alberto): Efetivamente, o fenômeno mediúnico guarda características muito específicas, que estão subordinadas às leis gerais.
Dentro dessa generalidade é natural que possamos encontrar as variadas especificidades. No tipo de exercício da atividade mediúnica que Chico Xavier estabelecia, vamos perceber alguém que fez um movimento grandioso de preparação, para que pudesse se demorar grandemente
na psicografia das cartas, sobretudo, no atendimento em pronto socorro espiritual à população.
Na verdade, como ele bem afirmaria, ele precisaria de quatro décadas para poder ajustar-se num trabalho de facilidades amplas a fim de poder filtrar as atividades de mensagens, que deveriam ser vertidas por ele no atendimento das necessidades da população, da multidão que o procurava.
Efetivamente, quando Chico se demorava largo tempo na tarefa do exercício mediúnico ele o fazia depois de um serviço apostólico de preparação.
Era tutelado por Entidades que acompanhavam o seu trabalho, que garantiam a possibilidade de que esse exercício não tivesse repercussões negativas, não perturbasse, por exemplo, a sua saúde, e que se pudessem alcançar os objetivos reservados pela Espiritualidade Amiga
para aquela oportunidade.
Acredito que o médium que não tenha o mesmo lastro, o mesmo estofo, que não esteja alinhado com essa proposta, teria dificuldades de poder fazer um exercício mediúnico de longo tempo de duração, porque se ressentiria fisicamente.
É necessário estar sobre uma tutela, de modo que esse desgaste causado pelo fenômeno mediúnico possa ter assim a sua contraposição em função do objetivo maior em que se apóie. Mas não é só isso, é necessário que a pessoa esteja equilibradamente posta e um largo tempo de
preparação prévia.

Wellerson: Por que na História todos aqueles que resolveram seguir Jesus sofreram tanto?

Alberto: Porque o sofrimento tem características diferentes.
Quando o animal sofre, ele tem um indicativo, um significado do ponto de vista evolutivo, que é diferente do ser humano. No ser humano, o significado da dor tem formatos diferenciados.
Nós temos a dor de características expiatórias, que é a de alguém que vem rever contas internas e faz ajustes de problemas não superados, pendências, e o faz com uma dose de dor, uma dor doída.
Nós temos a dor provacional que acontece de uma forma genérica no ser humano, como, por exemplo, a dor do parto, uma cólica para o exercício da evacuação, da defecação. São dores que fazem parte do ser humano. E nem, por isso, são dores necessariamente doídas, porque fazem parte da estrutura evolutiva do ser, dentro de uma característica de aprendizado absolutamente normal.
E temos as dores dos missionários, as dores relacionadas a Espíritos que não têm tendências necessariamente de resgate. Eles não fazem parte de um processo de aprendizado específico, individualizado – como é mais característico de um discípulo –, mas se atêm a um exercício de
demonstração de um mestre que ensina.
Então, a dor de Jesus na cruz é diferente da dor de Dimas ao Seu lado crucificado.
Naturalmente, esses grandes homens são imolados por conta da própria repercussão que suas vidas estabelecem em um Mundo tão resistente a acolher o bem.
Há todo um movimento de contraposição e há toda uma atitude de devotamento por parte do missionário, que vai à renúncia e ao sacrifício.
Essas são as manifestações do Amor, luminosas, que não tem nada a ver com tendências anteriores de outras vidas, de resgate. Aquela dor não é uma dor doída, porque não é a dor, necessariamente, daquele que está ensaiando o aprendizado, mas sim uma dor de luz, do coroamento do Amor que, em experimentando o ato do sacrifício, torna-se uma dor que não dói.
Emmanuel, quando analisa a dor de Jesus, por exemplo, diz que a crucificação pode ser comparada a fogos de artifícios, fazendo, naturalmente, menção à dor física.
Há um filme que revela Jesus massacrado. É um filme que chama atenção da população, porque a população está sintonizada com a dor física de Jesus. Mas apesar daquela dor, com um bom controle mental, a pessoa se equilibra.
Nós ficamos nos fogos de artifícios, ficamos na ilusão de uma dor física.
Contudo, almas iluminadas experimentam dores físicas com supremacia, com elevação, e essas dores fazem parte do seu processo de demonstração e de ensino, porque o Amor, quando ama verdadeiramente, pode chegar a esse nível de sacrifício.

Wellerson: Ainda na juventude, Chico Xavier teve o encontro amigo com José Hermínio e Carmén Perácio, que lhe foram os tuteladores naqueles recuados tempos. O que poderia ser dito aos médiuns que experimentam agora o seu despertamento? Qual o caminho a seguir?

Alberto: Eles devem se vincular a um grupo sério, a exemplo do casal Perácio, que deu a tutela a Chico e lhe permitiu ser acolhido no Centro Espírita Luiz Gonzaga, que foi estabelecido como a base primeira do médium.
Recomendamos aos médiuns que procurem grupos espíritas sérios para que, com base no estudo e na reflexão, possam ir aos poucos se apropriando do Espiritismo, conhecendo a Doutrina Espírita, para que possam fazer um exercício da mediunidade fundamentado no conhecimento
filosófico, científico, com o objetivo ético-moral, que o Espiritismo empresta quando analisa o fenômeno mediúnico.
É curioso que Chico tenha passado mais de três anos psicografando junto ao casal Perácio e que essas psicografias, nesse exercício mediúnico, ao tempo que ele fazia seu aprimoramento de estudo, de reflexão, de análise, tenham sido todas elas dispensadas, porque faziam parte de um treinamento.
Então, uma alma como Chico Xavier, que foi um espírito convidado a dar a sua contribuição à evolução espiritual do Planeta, precisou de três anos de exercício, quase quatro anos, para começar efetivamente o seu trabalho.
Eu percebo quantos médiuns da atualidade mal começam a psicografar e precipitadamente querem publicar, num descompasso com aquilo que é o exemplo de um grande médium, que busca o estudo antes.
Mesmo quando o médium seja um Espírito já de categoria elevada, com títulos de enobrecimento que traz de outras vidas, há a necessidade de um processo de adestramento, de um processo de qualificação, para que possa, assim, efetivamente, fazer o seu trabalho na psicografia para posterior publicação. Então, é necessário esse acolhimento de uma instituição
séria.
Kardec recomendava que as mensagens deveriam ser divulgadas para o público geral, mas, dentre aquelas mensagens boas, apenas dez por cento deveria ser publicado. Causa-me estranheza de ver a pressa com que os médiuns publicam mensagens, que, às vezes, são até saudáveis, são boas, para aquele grupo mediúnico ou para aquele centro espírita, mas não têm maior significado para o público em geral.
Às vezes, lançam-se publicações sem nenhum critério, esquecendo-se desse exemplo que você trouxe na pergunta, que é o nosso exemplo maior, o exemplo que temos na história do Espiritismo, o do Chico. Mesmo sendo Chico grande como ele já era antes de se reencarnar, ele, ainda assim, se lembrou de estudar, de refletir, e só depois de três anos ele faz a sua iniciação, por assim dizer, no trabalho que envolveria uma publicação da sua psicografia.

Wellerson: Para nós finalizarmos, na sua opinião, qual é a frase que define Chico Xavier?

Alberto: Humildade. Chico Xavier é o exemplo do exercício da humildade.
É muito difícil ser grande e ser humilde.
É muito difícil ser um bem-aventurado, como os pobres de Espírito, como os humildes, na fala de Jesus.
E Chico Xavier conseguiu esse feito. Quanto mais ele se apequenava vivenciando o Amor na vertente da humildade, mais ele se engrandecia.
E quanto mais ele se engrandecia, mais ele se apequenava.
Assemelhando-se a João Batista que, quando enaltecido, fazia menção ao Mestre e dizia que não era digno de desatar as correias das Suas alpercatas, assim fazia Chico em todas as vezes que era enaltecido, transferindo os elogios a Kardec e a Jesus.
A beleza de Chico Xavier na Terra é a de poder ter exercido o Amor, profundamente, linkado com a paz e impregnado com essa virtude da humildade, que, talvez, seja no momento a virtude mais difícil de ser conquistada pelos espíritas de um modo geral e, especialmente, pelos médiuns.

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